sexta-feira, 7 de novembro de 2014

OCUPAÇÃO ZUZU ANGEL

Algumas imagens das performances na "Ocupação Zuzu Angel" que esteve em cartaz em São Paulo no Itaú Cultural (abril, maio e junho de 2014) e no Rio de Janeiro, no Paço Imperial (agosto, setembro, outubro e novembro de 2014).

As performances consistiam em leituras de cartas de Zuzu Angel.

Cartas que Zuzu escreveu para amigos, politicos, pessoas influentes, como diário, na busca incansável por seu filho Stuart Edgar Angel Jones, desaparecido em 1971 durante o regime militar.

As cartas foram retiradas do livro "Eu Zuzu Angel, procuro meu filho" de Virgínia Valli.

As performances aconteciam individualmente ou em grupo com as colegas Laís Marques e Marilia Adami. Liamos muito e durante horas, e cada leitura era diferente, cada interlocutor nos trazia uma emoção diferente, relatos emocionantes, lágrimas, ouvidos atentos, uma troca muito intensa ao longo de toda exposição, e até a última leitura.

Certamente um dos trabalhos mais tocantes que já fiz e que reverbera fortemente em meu coração até hoje.









"Eu sou uma mineira jeca. Agora virei negocista, nisto puxei meu padrinho e tio Oscar, só penso em trabalhar e ganhar dinheiro para dar o melhor aos meus filhos. 
Agora tenho que entrar nessa política e virar militante. 
Que jeito? "





"Em 1968 na América, encontrei the most of New York's beautiful Vip People no coquetel sue Joan Crawford due em minha homenagem, em sue penthouse. 
Eugenia Sheppard me chamando em sua coluna WWD, de 19 de junho de 68;

A Lively Brunette….

A maravilhosa Joan Crawford em minha casa, me visitando, experimentando meus vestidos, eu indo com ela a todos os lugares, ela com o copo na mão, até no carro.
 Eu muito aflita e feliz!
Foi quando La Crawford veio ao Brasil inaugurar a fábrica da pepsi e me deu um lindo anel, que guardo com amor.
Depois em 70 repeti o sucesso de 68. A Fábrica Dona Isabel me ajudou a fazer a minha International Dateline Prêt-à-porter Collection, que foi apresentada numa prévia para a imprensa, patrocinada pela Bregdorf Goodman, de Nova York.
Cheguei a ser assaltada em Nova York, mas me sentia uma estrela igual àquelas que estava conhecendo.

Nessa data, novembro de 70, meu filho já caíra na clandestinidade.

Eu, iludida, eufórica com o sucesso."







" A procura do meu filho, e depois dos filhos das outras me envolveu completamente. 
Quando minha moda já estava fazendo sucesso e parecia, finalmente, que ia dar certo financeiramente, começo a receber informações na minha casa. Começo a aprender nessa escola em conta gotas, em que cada gota dói e queima.

Que é tortura? existe tortura?"





"Há tortura no Brasil sim! Só um bispo garantiu que sabia de 98 casos apenas no Rio.

Meu filho está nessa conta!"
















"Paulo caiu. Procurem. Ele está na PE."






 "Num dia qualquer de julho, recebo um telefonema. Uma voz de mulher.

Corremos a casa do general Frota. Ele estava ao telefone numa longa conversa, me pediu para esperar. Acho que falava em código. Não entendi nada.
Saímos para o quartel, ele na frente, eu e minhas filhas atrás, no carro de um amigo. Os motociclistas com as sirenes a toda.

Chegamos. Ele mostro as celas e disse: 






 Pode ver, seu filho não está aqui.
Aqui não se tortura. os presos estão aí respeitados. nem há presos…."








"Olha, seu filho está sendo morto agora na PE. Quem está falando aqui é a mulher de um soldado."







"Mas eu já disse a senhora, dona Zuzu, que o seu filho nunca esteve no Exército.

Olhaí, andam fazendo essa maldade com essa senhora, dizendo que o filho dela está preso aqui, e eu já disse a ela que ele Não está!"






"A dúvida , a incerteza.
A tortura era isso também, a incerteza. vivo e morto ao mesmo tempo. 
A minha angústia como um ser-não-ser, um jogo bárbaro de sim e não, morto e não morto. "







"Parei de me sentir como um ser humano. Sou como uma árvore muito fraca batida por um vendaval, e não posso continuar assim. 
Estou querendo o mínimo que uma mãe pode pedir. 
Saber se meu filho esta mesmo morto. receber seu corpo."










"Um preso político contou para seu advogado que viu me filho, qual um felipe-dos-santos, com os braços amarrados no rabo de um jipe, sendo arrastado para lá e para cá, no pátio desse malfadado Galeão.

O preso que contou esse fato hediondo chama-se Alex Polari de Alverga. 
Alex conhecia Stuart. Eles teriam um encontro alguns dias depois da queda de Alex."














"João Paulo Moreira Burnier, um nome que vai ficar para sempre ligado à minha desgraça de mãe."






"Deixo meus panos, a tesoura e a linha para procurar o fio desa outra meada, que vem desde Salvador, quando meu primeiro filho nasceu - 11 de janeiro de 1945.
Louro, amassadinho e vermelho, e eu mãe feliz de antanho.

O médico parteiro disse:  Seu filho vai ter um destino especial. nasceu justo na hora em que estavam lavando as escadarias da Igreja do Senhor do Bomfim."







"Corre, seu filho está sendo morto agora na PE."






 "Depois que Alex contou e que também fora ao local onde se encontraria com Stuart naquele bar da Vila Isabel, onde Tuti teria sido preso, estivemos lá várias vezes com a foto do meu filho.
Nada. Ninguém viu nada!

Tinha esperança. Queria me filho mesmo estropiado.
Ainda tinha esperança que Stuart não estivesse morto, quando saiu do Galeão embrulhado num lençol.


A gente não acredita mesmo que o destino seja assim tão cruel."






"Será que tem um trato com eles? O lugar é lindo, agradável e no dia em que Stuart caiu, 14 de maio, devia ser uma manhã ensolarada. Alguém tinha que ter visto.

De maneira que cada vez mais as coisas se embaralhavam na minha mente."






"Mais um episódio, mais um passo a procura do filho desaparecido. E nem sei se um dia vou saber tudo que aconteceu com Tuti. 

A dúvida sucede à esperança". 





"A mensagem política de Zuzu está nas suas roupas."  
(Chicago, 20/set)


                                                "A Coleção protesto de uma mãe."





 "Zuzu, que mostrou seus vestidos segunda-feira à noite na residência do Cônsul do Brasil em Nova                     York, designou-os como; Primeira Coleção de Moda Política."










"Há quatro meses. quando começei a pensar nela, a coleção, eu me inspirei nas flores coloridas e nos belos pássaros do meu país. 
Mas então, de repente, esse pesadelo entrou em minha vida e as flores perderam o colorido, os pássaros enlouqueceram e produzi uma coleção com um enredo político.

É a primeira vez, em toda história da moda que isso acontece.

Assim, espero que esta noite consiga fazê-los pensar no assunto, com essa Coleção."





"Indo a Ilha, nunca deixei de parar o carro no portão do CISA e falar com quem estivesse lá na porta, guarda ou outro qualquer:  
Foi aqui que torturaram e mataram meu filho.
E contava mais uma vez a história."






"Os parentes do meu marido estavam fazendo tudo para obter alguma informação.
Nada, nenhuma resposta.






No exterior ninguém compreende como uma pessoa, morando numa capital, presa pelas autoridades, pode desaparecer sem deixar traço."





"Até o presente, a polícia do Rio não conseguiu localizar a ocorrência de qualquer registro de prisão nesse nome. Informaram me hoje, no entanto que les detiveram um Stuart Edgar Angel Gomes. 
O Sr. Gomes, no entanto, evadiu-se e o seu paradeiro é desconhecido no momento. 
Considerando que os três prenomes são idênticos e que Gomes é uma provável corruptela de Jones, creio que é muito provável que a informação policial se refira a seu sobrinho."







"Está tudo tão claro!
São esses os nomes que correm em processos na 2 Auditoria da Aeronáutica, com Jones trocado por Gomes.Está tudo tão claro, meu Deus!
Primeiro disseram que ele fora preso. A mim e ao Cônsul. Depois disseram que ele fugiu.


Foragido, uma palavra que a gente conhece bem, que significa morto sob tortura."









"Agora toca a Polícia Federal ou o SNI a proibir que se publique esse maldito nome Angel nos jornais. 
Mais de um jornalista me contou que entre as coisas proibidas de sair nos jornais estava o nome do meu filho. Para dar tempo a esses milicos de forjarem uma mentira para encobrir o crime. 
Ou que esquecessem.

Mas uma mãe nunca esquece, saibam!"





"Antes ele já estava sendo citado em diversas Auditorias. Como a da Marinha, onde pude assistir a essa palhaçada de julgamento de subversivos.

O que é você ouvir o nome do seu filho, já morto, ser gritado três vezes pelo oficial de justiça."





"Stuart Edgar Angel Jones!"




"Expectativa geral. Ninguém responde nem aparece, ninguém. 
Eu lá, gelada de horror.


Stuart Edgar Angel Jones!"





"Stuart Edgar Angel Jones! "




"Nada, ninguém se levanta do túmulo."





"Zuzu Angel foi operária do seu trabalho, uma mulher a frente de seu tempo, que conseguiu seu lugar ao sol e foi a luta corajosamente em busca do filho."











"EU NÃO TENHO CORAGEM, CORAGEM TINHA MEU FILHO. 
EU TENHO LEGITIMIDADE."









quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Cenas de um Casamento

  

"O CASAMENTO"  

É uma adaptação teatral do romance homônimo de Nelson Rodrigues, com dramaturgia e direção de Johana Albuquerque, numa realização da Cia. Bendita Trupe (Daniel Alvim, Maurício de Barros e Vera Bonilha) em parceria com o Teatro Promíscuo (Elcio Nogueira Seixas, Renato Borghi e Regina França). 

O Casamento é o único romance de Nelson Rodrigues concebido sem interrupções, diferentemente de todo o resto de seus romances, escritos em capítulos diários em jornal. Ruy Castro aponta O Casamento como um dos três ou quatro maiores romances brasileiros do século passado; segundo Arnaldo Jabor, é um dos maiores romances urbanos escritos no país. Adultério, incesto, assassinato e um austero moralismo pontuam as páginas do livro, que volta a subverter a ordem mesmo no novo milênio.

A encenação deste texto, que é a súmula da linguagem de Nelson Rodrigues, tem Renato Borghi encabeçando o elenco e Diana Bouth em sua estreia como atriz.

Tendo como pano de fundo o Rio de Janeiro nos anos 1960, com aqueles tipos e situações de que Nelson foi o cronista máximo, O Casamento surpreende pela crueza de sua temática, como também, pela sua originalidade e bem-humorada dramática.  

A peça esteve em cartaz no Teatro Tuca/SP de 13 de abril a 29 de julho de 2013.










































FICHA TÉCNICA:


Autor: Nelson Rodrigues
Adaptação e dramaturgia: Johana Albuquerque

Atores / Personagens:
Renato Borghi como Dr. Sabino e Pai de Zé Honório
Daniel Alvim como Antônio Carlos, Teófilo e Fotógrafo
Diana Bouth como Glorinha
Elcio Nogueira Seixas como Dr. Camarinha; Zé Honório e Comissário
Maurício de Barros como Monsenhor; Xavier; Sampaio e Romário
Regina França como Dona Noêmia e Mãe de Zé Honório
Vera Bonilha como Eudóxia; Maria Inês e Leprosa

Cenário e objetos de cena: André Cortez
Figurinos e adereços: Simone Mina
Iluminação: Paulo Cesar Medeiros
Musica original e trilha sonora: Pedro Birenbaum
Visagismo: Leopoldo Pacheco
Limpeza de movimento e de coreografia: Roberto Alencar

Fotos: Alexandre Catan
Projeto gráfico: Helena de Barros
Direção de vídeo: Renno Rosati
Locução: Ronaldo Tapajós
Assessoria de imprensa: Morente Forte Comunicação